Fortaleza ou Castelo de Areia Digital?
Dan Brown é uma espécie de J. K. Rowling dos adultos. Seus livros são muito badalados e encabeçam a lista dos mais vendidos. Em especial, O Código da Vinci pode ser chamado de o Harry Potter dos marmanjos.
É interessante ver que a comparação entre os dois autores vai além do tocante popularidade/vendagem dos seus respectivos livros. Apesar de tratarem de assuntos, bem como também serem dirigidos a públicos completamente diferentes, há similaridades em sua maneira de escrever. Da mesma forma que a autora inglesa, criadora do bruxo mais famoso -- e chato! -- do mundo é repetitiva em sua "obra", Dan Brown também o é em seus livros. Dos três livros de sua autoria, li dois e vejo que ele também segue à risca a mesma forma em todas as suas histórias.
Ganchos e mais ganchos entre um capítulo curto e outro -- ele chega a ter a cara-de-pau de fazer um capítulo com apenas um parágrafo --, tem-se a nítida sensação de estar lendo um roteiro de filme e não um livro.
Mas afinal de contas, o Fortaleza Digital é bom ou não? É ruim! Muito ruim! "Mas como, se vc mesmo disse que segue a mesma fórmula do Código Da Vinci que vc diz ter gostado?", alguém poderia me perguntar. Sim, é verdade. A Receita de bolo está lá, mas no caso do Código havia um tema, digamos, até certo ponto mais interessante com uma boa teoria da conspiração recheada de informações das quais ou eu nunca ouvi falar ou algumas coisas que já me eram familiar. Além do quê o autor conseguia manter um nível de razoável suspense durante cerca de dois terços do livro que, infelizmente chegava a um ponto que vc se dava conta e pensava "ok, já sei onde isso vai dar..." e realmente tudo desaguava num clímax bobo e previsível conforme tinha se configurado anteriormente. Mas voltando ao Fortaleza...
Commo ele segue o seu algoritmo ao pé da letra, o livro padece dos mesmos problemas do código. As primeiras 100 páginas até empolgam mas depois a história entra numa fase de enrolação entediante com abuso dos clichês literários mais batidos que existem. Como se isso não bastasse, as últimas 50 páginas chegam a ser constrangedoras. É tão forçado e faz uso de alguns termos de informática que qualquer um que já tenha baixado um arquivo e visto um linux funcionando vai gargalhar e sentir pena do autor. Outro ingrediente de sua receita de best seller é ignorar certas características marcantes de seus personagens para que tudo se acomode na história e fique "plausível", o que, obviamente, surte efeito contrário -- gostaria de saber o que faz um cara surdo a metros de distância "sentir" alguém se jogando ao chão de uma escada de pedras de uma torre medieval e também a ignorância completa de química básica entre maiores cérebros da maior organização secreta de inteligência norteamericana e também a razão de uma senha superimportante ter apenas um único dígito numérico!
Dizem que Anjos e Demônios é o melhor livro dele até agora -- o que convenhamos, não quer dizer muita coisa --, mas pretendo não ler a médio prazo. Tem muita coisa melhor empilhada na minha mesa de cabeceira.