"Setecentas e oitenta e três coincidências podem acontecer em qualquer lugar..."
Taí um termo que sempre me fascinou. Muitas pessoas supervalorizam as coincidências que acontecem em nossas vidas. Uma parte valoriza tanto que passa a não acreditar em sua existência, querendo de alguma forma dar alguma lógica a algo completamente desprovido de sentido. Não é irônico?
Eu desde muito cedo achava graça dessas pessoas supersticiosas que valorizavam esses acontecimentos fortuitos, sendo, portando, aquela criança que sempre reagia com ceticismo e fazia troça destes acontecimentos -- analisando a questão por esse ângulo, não chega a ser surpreendente que eu tenha me tornado ateu ainda bem criança...
Entretanto, sempre entendi os mais sonhadores que pensavam algo do tipo "Ora, o acaso existe e, se existe alguma regra intrínseca que administra o que se sucede, afinal de contas, até mesmo o caos é determinístico, por que não há algo maior que pré-defina um acontecimento que nós, displicentemente, chamamos de coinciência?". Embora nunca tenha parado pra pensar exatamente em uma contra-argumentação -- a grande maioria das pessoas que pensam assim não merecem o meu dispêndio de energia e tempo para convencê-las de que estão enganadas --, sempre tinha algo mais ou menos formatado em minha mente com relação a esse assunto. Isso até me deparar com o seguinte trecho do livro A Insustentável Leveza Do Ser:
Incrível como o Milan Kundera, nessa belíssima passagem do livro, traduziu tudo aquilo que sempre pensei a respeito do tema.
Acredito que era mais ou menos isso que o Roberto Bolaños também tencionava dizer com o seu personagem Chapolin Colorado, na frase que dá título a este post -- que é do episódio das pedras voadoras, provavelmente o mais antológico de toda a série --, embora o Kundera tenha sido mais eloqüente.
E tenho dito!
Taí um termo que sempre me fascinou. Muitas pessoas supervalorizam as coincidências que acontecem em nossas vidas. Uma parte valoriza tanto que passa a não acreditar em sua existência, querendo de alguma forma dar alguma lógica a algo completamente desprovido de sentido. Não é irônico?
Eu desde muito cedo achava graça dessas pessoas supersticiosas que valorizavam esses acontecimentos fortuitos, sendo, portando, aquela criança que sempre reagia com ceticismo e fazia troça destes acontecimentos -- analisando a questão por esse ângulo, não chega a ser surpreendente que eu tenha me tornado ateu ainda bem criança...
Entretanto, sempre entendi os mais sonhadores que pensavam algo do tipo "Ora, o acaso existe e, se existe alguma regra intrínseca que administra o que se sucede, afinal de contas, até mesmo o caos é determinístico, por que não há algo maior que pré-defina um acontecimento que nós, displicentemente, chamamos de coinciência?". Embora nunca tenha parado pra pensar exatamente em uma contra-argumentação -- a grande maioria das pessoas que pensam assim não merecem o meu dispêndio de energia e tempo para convencê-las de que estão enganadas --, sempre tinha algo mais ou menos formatado em minha mente com relação a esse assunto. Isso até me deparar com o seguinte trecho do livro A Insustentável Leveza Do Ser:
Nossa vida cotidiana é bombardeada de acasos, mais exatamente de encontros fortuitos entre as pessoas e os acontecimentos -- aquilo que chamamos de coincidências. Existe co-incidência quando dois acontecimentos inesperados acontecem ao mesmo tempo, quando eles se encontram: Tomas aparece no restaurante no momento em que o rádio toca Beethoven. Na sua imensa maioria, essas coincidências passam completamente despercebidas. Se o açougueiro da esquina tivesse vindo sentar-se à mesa do restaurante em vez de Tomas, Tereza não teria notado que o rádio tocava Beethoven. (Se bem que o encontro de Beethoven com um açougueiro seja também uma curiosa coincidência.) Mas o amor nascente aguçou a percepção da beleza, e ela jamais esquecerá essa música. Toda vez que a ouvir, tudo o que acontecer em torno dela, nesse momento, ficará impregnado com o seu brilho.
Incrível como o Milan Kundera, nessa belíssima passagem do livro, traduziu tudo aquilo que sempre pensei a respeito do tema.
Acredito que era mais ou menos isso que o Roberto Bolaños também tencionava dizer com o seu personagem Chapolin Colorado, na frase que dá título a este post -- que é do episódio das pedras voadoras, provavelmente o mais antológico de toda a série --, embora o Kundera tenha sido mais eloqüente.
E tenho dito!